Pelos dados publicados, a contribuição das empresas para a despesa total em I&D (que na realidade, e sob o ponto de vista conceptual, se deveria dizer antes - investimento total em I&D) teria passado de 0% em 1982 para 45% em 2010 - ou seja, seria um fenómeno completamente novo dos últimos vinte anos, o que obviamente é falso.
Na figura junta mostram-se os números da % de despesa empresarial (coluna 2), tal como no referido relatório, e os números corretos, aliás também construidos com dados publicados na mesma tabela (coluna 1). A origem do erro é óbvia: alguém calculou a referida percentagem relativamente ao total fixo da despesa em 2010, em vez do total variável de cada ano. Um erro elementar de uso de excel!
Claro que só quem escreve e publica é que comete gralhas e erros. Mas o que choca neste caso é que pelos vistos ninguém tenha até agora dado pelo erro e feito uma correção ao pdf e mapa de excel, ainda por cima num organismo do estado com as responsabilidades e necessidade de credibilidade como o GPEARI.
A performance do I&D empresarial em Portugal nos últimos anos foi significativa, passando de 32% em 2001 para 50% em 2008 e 45% em 2010 (valor provisório). Sob o ponto de vista de estrutura de I&D fizemos uma aproximação substancial à média europeia e americana (ver figura). Sob o ponto de vista de intensidade (medido pelo habitual ratio entre a despesa empresarial em I&D e o PIB, a preços correntes) também (ver figura seguinte).
Seria interessante escalpelizar melhor a razão desta melhoria. Discutimos parte desta questão em trabalhao anterior (ver WP46 (2004) ). Não temos dúvidas que a intensidade do I&D empresarial aumentou, mas também não temos dúvidas que uma parte da sua maior visibilidade é explicada pela relevância que a explicitação das despesas em I&D passou a conhecer, por razões fiscais (especialmente grandes empresas) e pelo protagonismo político e social que a questão passou a ter (em parte também consequência dos inquéritos IPCTN).
Felizmente que muitas empresas passaram a descobrir que I&D não é só investigação laboratorial e académica, mas é também muito daquilo que tradicionalmente eram despesas para aperfeiçoar produtos e processos, e para sobreviver e competir. Afinal as empresas portuguesas eram, e continuam a ser, mais inovadoras do que pareciam ( parecem) ser. Neste processo, os programas de apoios comunitários têm também tido um papel relevante.
No referido trabalho mostramos que o gap bem visivel no ultima gráfico entre a % de despesa empresarial em I&D em relação ao PIB, em Portugal e nos USA, não será afinal tão amplo como as estatisticas sugerem, tendo em conta as diferenças de estrutura (especialização setorial) e de dimensão (falta de muito grandes empresas em Portugal) do tecido empresarial dos dois países. Na altura estimamos que o gap real poderá ser apenas cerca de metade do anunciado pelas estatisticas.
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